quarta-feira, 16 de julho de 2014

Coragem.

"A vida é luta." Ouvi isto do meu terapeuta no mínimo umas 50 vezes. Por mais que ele tenha razão no que diz, ainda encontro dentro de mim uma resistência fora do normal com relação a este fato. É como se uma força interior insistisse em condenar minha carne ao fracasso, não só físico, mas também emocional e racional. Parece brincadeira, mas já há 4 anos esta força quer fazer da minha mente morada.

Não que eu queira bancar a vítima ou o coitado. Por toda a minha vida, eu já tive minha cota suficiente de auto-piedade. Interpretei o mundo da pior maneira possível. Confesso que até hoje ainda deixo escapar umas interpretações aqui e ali. Encontro-me, porém, dotado de um controle que jamais esperei ter quando mais novo. Hoje, vejo o quanto a vida nos surpreende, alicerçada nas voltas que o mundo dá.

Tudo que pretendo falar neste texto é sobre como esta "força" que citei não passa de crença estúpida. Uma imposição mental absolutamente contrária à realidade. tal força nasce de um trauma, ou de uma discussão no passado, ou de alguma declaração de alguém - importante na sua vida ou não - de que não seja possível isto ou aquilo da sua parte. O que ocorre em seguida é a absorvição das palavras - ou da experiência - para a mente, cujo papel é guardar em memória o que foi dito ou vivido.

A partir daí, a cabeça do indivíduo não tem mais espaço para nada que não seja negativo. Pensamentos os mais diversos - eu não vou conseguir, eu não sou capaz, não adianta, não vai dar, eu não presto para nada - habitam uma mente tão provida de potencial. A derrota, já deflagrada, passa a ser regra de uma vida que ainda tem muito o que percorrer. 

Uma coisa pior acontece a partir deste ponto: a acomodação. Digo pior porque enquanto o pensamento reside preso dentro dos giros cerebrais, a carne reside solta no espaço livre. Nasce, portanto, a oportunidade de escolha. Se nada prende meu corpo, então posso fazer uso dele da maneira que melhor me apraz. Posso correr, pular, sentar e deitar, assim como também posso usar meus braços para organizar a minha vida. Os braços invisíveis da mente, entretanto, prendem os de carne, atendendo à ordem dos únicos capazes de mudar isto: nós mesmos.

Permitimos ser controlados, mandados, delegados, não pela chefia do nosso trabalho regular, mas pela chefia da nossa mente. Uma bancada suportada na mentira. Inverdades que habitam o consciente e o inconsciente, criando amarras que só trabalham sob a nossa permissão. Impressiona e entristece saber que o trabalho realizado por elas é dos mais bem feitos. 

Há uma solução. Um remédio tão exemplar quanto óbvio. Quem dele tomar, mudará o rumo da sua vida para sempre. Penso, entretanto, que sua aplicação é diária e seu efeito virá a longo prazo. Uma espécie de PROZAC® para a coragem de lutar na vida. Uma esperança para quem já desceu do ringue da existência. E o remédio é este: fazer o contrário.

Sim, dileto leitor. Perceba o que foi dito: FAZER. Temos esta escolha. As mentiras acumuladas só trabalham sob a nossa permissão. Nós somos os presidentes da república das nossas ações. Significa dizer que qualquer projeto da mente só pode ser sancionado mediante à nossa decisão. Somos o que nos permitimos ser. Não há amarras tão fortes quanto a nossa força de vontade.

Fazer o contrário significa ousar. Se a mente diz que não posso, ouso pensar que posso. Se a mente diz que não sou inteligente o bastante, ouso pensar que sou mais até do que penso ser. Em todo caso, uso a mente. Permito pensamentos que ocupem o lugar dos negativos. Coloco as inverdades nos seus devidos lugares: os arquivos mortos do meu subconsciente.

Há uma longa estrada pela frente. Um caminho pelo qual faço questão de andar a pés descalços, para então sentir tudo o que ele me proporciona. Aproveito cada minuto desta jornada rumo à emancipação do pensamento, pois de acordo com certa passagem dita por alguém sábio o bastante, a jornada é que nos deixa felizes, e não o destino. Coragem para lutar. Luta para vencer. Vitória para viver.